Colecione memórias e acumule sorrisos! Todo o resto é passageiro... só o que fica são lembranças!

quarta-feira, 31 de janeiro de 2024

CARTA ABERTA À MINHA FILHA

O fim da infância

Eu queria te dizer muita coisa hoje, mas só consegui chorar... Eu queria te pegar no colo.
Eu queria... eu queria te dizer tudo que virá, e o quanto será "diferente" daqui para frente. Nem ruim, nem bom, apenas DIFERENTE.
Eu queria, mas só consegui chorar!
Eu queria que você soubesse o misto de sentimentos que senti hoje, mas nem eu mesma sei explicar! Uau! Você agora é uma "mocinha"! Mas poxa, minha menininha vai crescer... Sabe como? Esse misto de "legal, mas poxa!" Rs...
Ah, como eu queria você na minha barriga novamente... essa coisa de você crescer me deixa insegura! E eu... eu queria te falar... mas, só consegui chorar!
Que a vida seja leve com você, minha pequena! E que você seja tão grande quanto seus sonhos!

Lu Poltoff

VOCÊ É A NENEZINZINHA DO PAPAIZINZÃO OU A NENENZINZONA DO PAPAIZINZIN?

Por toda infância ele me fez essa pergunta divertida, que sempre me deixava sem resposta.

O tempo passou e nossos defeitos por muitas vezes nos afastaram. Ele sempre explosivo e rude, eu sempre inconsequente e "malcriada"!

Existe uma régua para medir quem errou mais? Não sei. Já nem sei se erramos... talvez estávamos apenas aprendendo a ser pai/filha. Não importa!

O que importa é que o tempo também trouxe a maturidade, e tivemos tempo de viver a parte boa!

Os defeitos sumiram? Lógico! - que não. Apenas aceitamos um ao outro como somos.

Mas nosso tempo tá acabando! E viver seu fim é terrível! Assustador! Desesperador! E... inevitável!

Mas estamos juntos... e estaremos até o fim!

Hoje mandei de volta a frase! Rs...

_"Você é o papaizinho da nenenzinzona ou o papaizinzão da nenenzinzinha?
...
_(Ele me olhou pensativo e cansado).
...
_"Os dois???"
...
_"É." (Com um sorrisão).

E foi sua última palavra.

Lu Poltoff

O LUTO

Depois que perdi meu pai, em meio a tantas dores diferentes que experimentei, também descobri um sentimento que ainda não sei nomear! Vou explicar melhor!

É como se estivesse perdendo meu lugar de filha... pelo menos metade de mim perdeu!

É como se a minha infância tivesse ficado mais distante! Coisas que eu lembrava com o sentimento de "ontem", agora lembro-me com o sentimento de "um tempo muito distante"! Como se em 1 dia eu tivesse me afastado da infância por 40, 50 anos! Como se eu tivesse envelhecido na velocidade da luz, no dia em que meu pai se foi!
Não sou mais a Lu de sempre. Nunca mais serei.

Agora, tenho lembranças (minhas e dele) que serão lembradas só por mim! E se eu quiser confirmar alguma delas, não terei onde recorrer!

Me sinto como uma bebezona perdida! rs

Lu Poltoff

A MORTE

Com a morte do meu pai, algumas coisas perderam o sentido! A casa, o quarto, os livros, os copos que ele gostava, a bagunça da área de churrasco... É como se tivessem perdido o motivo para estarem ali!

E, além de mim e das minhas irmãs, existe uma outra coisa que ainda o aguarda: seu lugar na mesa da cozinha! Ahh, quantas vezes vou olhar pra ele o procurando? Quantas vezes vou olhar pra lá esperando iludidamente o ver! Quantos sábados são necessários pra entender que ele não estará (nunca mais) lá fora ouvindo música? Quantos aniversários meus serão necessários pra que eu entenda de uma vez por todas que seu "parabéns" não será mais o primeiro?!


Mas além das coisas que não fazem mais sentido, outras parecem começar a fazer! Essas, ficarão guardadas num segredo só nosso! Ou só meu, que seja! Existem coisas que fogem a qualquer explicação, pois precisam ser vivenciadas pra ser entendidas.


Te amo pra sempre, pai.

Lu Poltoff

O MELHOR PRESENTE

Hoje, dia das mães, minha filha de 5 anos fez uma coisa "errada" e, de certa forma, foi bem errado mesmo o que ela fez. Mas, no desespero do retorno à consciência chegou até mim quase chorando e disse "mamãe, eu fiz uma coisa muito errada, mas você me desculpa?"

Ao conversar com ela tive noção da certa "gravidade" da situação. Mas ali, sentada na cama longe de tudo e de todos eu a acalmei, conversei, orientei e abracei. E ela completou "mamãe, você é a "meló" mãe do mundo!".

Naquele momento tive um retorno positivo da dolorida tarefa de educar. Porque apesar de tudo, ela confiou em mim, ela me buscou quando se sentiu insegura, ela viu em mim um porto seguro. Ela entendeu que eu não estou aqui pra julgá-la, e sim apoiar e mostrar o caminho. Ela entendeu, com apenas 5 anos, que mãe é colo seguro!

E, pelo menos hoje, a incerteza e a insegurança que acompanham a maternidade vão dormir bem longe dos meus pensamentos. Pelo menos por hoje.

Lu Poltoff

DA METADE DO CAMINHO

Daqui da metade do caminho, já consigo enxergar o que foi percorrido com mais entendimento. E o que vem a  seguir, embora ainda me assuste, sei que não caminharei sozinha.

Daqui da metade do caminho, já não levo mais tanto a sério o que é superficial. Aprendi que o recheio é melhor que a cobertura!

Daqui da metade do caminho eu já posso compreender que cada um entrega o que tem. O que recebo das pessoas nem sempre é fruto do que eu dou, e sim o outro é capaz de me dar. Cada um dá o que o seu potinho tá cheio.

Daqui da metade do caminho, entendo que cada um está fazendo seu melhor, e que isso nem sempre vai ser o suficiente, mas é o que dá para fazer no momento.

Daqui da metade do caminho, vejo que nem sempre estou com a razão, porque o que para mim é certo pro outro pode não ser. Usamos óculos diferentes para enxergar o mundo, e tá tudo bem.

Daqui, do "meínho" do caminho, sinto uma enorme gratidão pela minha caminhada. Pelos tropessos que me fizeram saltar adiante e pelos altos e baixos que me impulsionaram. Confesso que não segui porque fui maravilhosamente persistente, mas sim porque não havia outro caminho senão esse e não havia outro modo senão caminhar.

Daqui, dessa (espero que seja) metade do caminho,  aprendi que sorri às vezes dói e chorar também pode ser bom. E que tanto um quanto o outro, quando fazemos em companhia é melhor.

Daqui, conto nos dedos os que ficaram. Mas daria todos os meus dedos e mãos por eles. É que daqui do meio do caminho a gente entende que menos é mais.

Lu Poltoff

UM DIA QUALQUER...

Acordei cedinho com um beijinho de "bom dia". Nos levantamos e fiz um chá para nós dois. O café ainda me deixa ansiosa.

Fui ao jardim cuidar das plantas enquanto ele cuidava dos bichos... o dia está lindo! Retirei ervas daninhas, reguei, limpei a terra, retirei folhinhas mortas... arranquei algumas florezinhas para enfeitar nossa mesa do almoço. Hoje vem todo mundo!

Organizamos a casa mas, não muita coisa, já não perdemos mais tempo com isso! Fomos correndo preparar nosso almoço. Com carinho fizemos o que cada um gosta. Com cuidado para que não nos esqueçamos de  ninguém.

Aos poucos a casa foi se enchendo... filhos, netos, bisnetos! E nossa mesa está linda! Agrupamos mais cadeiras pois a família está grande! Tiramos a foto como sempre. Contamos as mesmas histórias, rimos das mesmas piadas... contamos algumas novidades e desabafamos alguns problemas.

Juntos retiramos a mesa e rapidamente estava tudo organizado de novo. Conversas, música, e crianças gritando se misturam formando a trilha sonora perfeita.

Passamos a tarde juntos. Preparei um café e uns bolinhos de chuva. Comemos na varanda enquanto as crianças brincavam no quintal... como é bom ver esse quintal sendo explorado por crianças novamente! Observo as crianças correndo para lá e para cá, e meu peito aperta de saudade... saudade de quando estavam todos assim, pequeninos, grudadinhos em mim...

Me afasto um pouco dos grandes e me junto aos pequenos... volto a ser criança! Como eles são parecidos com os meus... me fazem voltar ao tempo! Ensino minhas brincadeiras e aprendo as deles também... isso faz eu me sentir viva!

Aos poucos escurece e já é hora de dar adeus. Queria um pouco mais. Essa parte é sempre muito dura, mas não deixo transparecer.

A casa está vazia de novo. Somente eu e ele. Mas eu gosto disso. Estamos felizes. Deitamos na rede juntos e começamos a balançar. Estamos cansados, já não somos mais jovens.

Fecho meus olhos...  sinto a mão dele acariciar meus cabelos brancos. Faço uma retrospectiva da minha vida. Os acontecimentos mais importantes passam como um filme em minha cabeça! A gratidão enche meu peito fazendo o amor transbordar.

E sem saber para onde estou indo... vou! Levando comigo tudo o que vivi, tudo o que fui e com a certeza de que deixei um pouco de mim...

Lu Poltoff 

CONSELHOS PARA MIM

Ei, relaxa...
Eles não precisam ser perfeitos! São seres em construção.

Ei, relaxa!
Você também está aprendendo! Erra, tenta, acerta e erra mais uma vez.
Entenda que assim como você, eles também erram. E isso nem sempre é culpa sua!

Ei, moça... Relaxa.
Nem toda nota há de ser 10.
Nem todo carinho é abraço.
Nem todo brinquedo deve ser dos comprados.
Às vezes um seis naquela matéria é superação!
Belas palavras e atitudes também demonstram afeto!
E brincar de pega-pega pode ser mais divertido!

Então,
Tire esse peso dos ombros e torne mais leve essa viagem...
Dê conselhos, corrija, oriente, cobre, mas... Não se aflija!
Os caminhos não são sempre os mesmos. E nem pudera ser. Somos seres únicos... perderíamos a graça!

Ei, garota, relaxa!
O tempo é um ótimo conselheiro, mas também é ótimo em dar sustos! Quando você menos esperar, estará no fim do caminho... e, ao olhar para trás verás um lindo
caminho paralelo ao seu, trilhado com uma beleza única!

Aí sim, segue, e... RELAXA!!! 

Lu Poltoff

CARTA ABERTA À MINHA FILHA O fim da infância Eu queria te dizer muita coisa hoje, mas só consegui chorar...  Eu queria te pegar no colo. Eu ...